quarta-feira, 20 de março de 2013

Manifesto pela Democratização do Regime


Permitirme-ão os meus leitores que cite integralmente o Manifesto pela Democratização do Regime, com o qual concordo e o qual subscrevo integralmente:

"A tragédia social, económica e financeira a que vários governos conduziram Portugal interpela a consciência dos portugueses no sentido de porem em causa os partidos políticos que, nos últimos vinte anos, criaram uma classe que governa o País sem grandeza, sem ética e sem sentido de Estado, dificultando a participação democrática dos cidadãos e impedindo que o sistema político permita o aparecimento de verdadeiras alternativas.

Neste quadro, a rotação no poder não tem servido os interesses do Povo. Ela serve sobretudo para esconder a realidade, desperdiçando a força anímica e a capacidade de trabalho dos portugueses, bem como as diversas oportunidades de desenvolvimento que o País tem tido, como aconteceu com muitos dos apoios recebidos da União Europeia.

A obsessão do poder pelo poder, a inexperiência governativa e a impreparação das juventudes partidárias que, com inusitada facilidade e sem experiência profissional ou percurso cívico, chegam ao topo do poder político, servem essencialmente objectivos e interesses restritos, nacionais e internacionais, daqueles que utilizam o Estado para os seus próprios fins.

O factor trabalho e a prosperidade das pessoas e das famílias, base do progresso da Nação, são constantemente postos em causa pela austeridade sem desígnio e pelos sacrifícios impostos aos trabalhadores, como se fossem eles, e não os dirigentes, os responsáveis pelo desgoverno do Estado e pelo endividamento excessivo a que sucessivos governos conduziram Portugal.

Como se isso não bastasse, o poder político enveredou pela afronta de culpar os portugueses, procurando constantemente dividi-los: os mais novos contra os mais velhos, os empregados contra os desempregados, os funcionários públicos contra os trabalhadores do sector privado.

A Assembleia da República, sede da democracia, desacreditou-se, com os deputados a serem escolhidos, não pelos eleitores, mas pelas direcções partidárias, que colocam muitas vezes os seus próprios interesses acima dos interesses da Nação. A Assembleia da República representa hoje sobretudo – com honrosas excepções – um emprego garantido, conseguido por anos de subserviência às direcções partidárias e de onde desapareceu a vontade de ajuizar e de controlar os actos dos governos.

A Nação portuguesa encontra-se em desespero e sob vigilância internacional. Governos sem ideias, sem convicções, sem sabedoria nem estratégia para o progresso do País, colocaram os portugueses numa situação de falência, sem esperança, rumo ou confiança. O Estado Social está a desmoronar-se, mais do que a racionalizar-se, deixando em angústia crescente centenas de milhares de desempregados e de novos pobres. 

E não é apenas o presente que está em desagregação. É simultaneamente o futuro de dezenas de milhares de jovens sem emprego ou com salários que não permitem lançar um projecto de vida. 

Só por incompetência partidária e governativa se pode afirmar que os portugueses têm vivido acima das suas posses -como se as posses de milhões de famílias que recebem menos de mil euros por mês fosse o problema- ou que não existem alternativas aos sacrifícios exagerados impostos aos mais pobres e à classe média.

É urgente mudar Portugal, dando conteúdo positivo à revolta e à crescente indignação dos portugueses. As grandes manifestações já realizadas mostraram de forma inequívoca o que milhões de portugueses pensam do sistema político e da nomenclatura governativa.

Há uma diferença dramática entre os políticos que pensam na próxima geração e os que pensam sobretudo na próxima eleição. A sociedade portuguesa tem naturalmente respeito pelas figuras políticas e pelos partidos que foram determinantes no regresso do País a um Estado de Direito Democrático. E pelos políticos que, com visão, souberam recolocar Portugal na Europa.

O que está hoje em causa já não é a opção pela democracia, mas torná-la efectiva e participada. Já não está em causa aderir à Europa, mas participar no relançamento do projecto europeu. Não está em causa governar, mas corrigir um rumo que nos conduziu à actual crise e realizar as mudanças que isso implica.

Todavia, nada será possível sem um processo de reformas profundas no Estado e na economia, reformas cujos obstáculos estão, em primeiro lugar, nos interesses de uma classe política instalada e na promiscuidade entre o poder político e os interesses financeiros.

Impõe-se uma ruptura, que a nosso ver passa por três passos fundamentais: 

- Em primeiro lugar, por leis eleitorais transparentes e democráticas que viabilizem eleições primárias abertas aos cidadãos na escolha dos candidatos a todos os cargos políticos;

- Em segundo lugar, pela abertura da possibilidade de apresentação de listas nominais, de cidadãos, em eleições para a Assembleia da República. Igualmente, tornando obrigatório o voto nominal nas listas partidárias;

- Em terceiro lugar, é fundamental garantir a igualdade de condições no financiamento das campanhas eleitorais. O actual sistema assegura, através de fundos públicos, um financiamento das campanhas eleitorais 
que contribui para a promoção de políticos incompetentes e a consequente perpetuação do sistema.

Esta ruptura visa um objectivo nacional, que todos os sectores da sociedade podem e devem apoiar. Alterar o sistema político elimina o pior dos males que afecta a democracia portuguesa. Se há matéria que justifica a união de todos os portugueses, dando conteúdo às manifestações de indignação que têm reclamado a mudança, é precisamente a democratização do sistema político.

 É urgente reivindicar este objectivo nacional com firmeza, exigindo de todos os partidos a legislação necessária. Queremos que eles assumam este dever patriótico e tenham a coragem de –para o efeito– se entenderem. Ou então que submetam a Referendo Nacional estas reformas que propomos e que não queiram assumir. Os portugueses saberão entender o desafio e pronunciar-se 
responsavelmente. 

Entretanto, os signatários comprometem-se a lançar um movimento, aberto a todas as correntes de opinião, que terá como objectivo fazer aprovar no Parlamento novas leis eleitorais e do financiamento das campanhas eleitorais.

A Pátria Portuguesa corre perigo. É urgente dar conteúdo político e democrático ao sentimento de revolta dos portugueses. A solução passa obrigatoriamente pelo fim da concentração de todo o poder político nos partidos e na reconstrução de um regime verdadeiramente democrático. "

IN: Manifesto pela Democratização do Regime - http://cdn.negocios.xl.pt/files/2013-03/12-03-2013_11_58_48_Manifesto_pela_democratiza%C3%A7%C3%A3o_do_regime.doc.pdf

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Tirem a final da Taça do Jamor!


Há cerca de dez anos Portugal apresentou a candidatura à organização do Euro 2004. Quando apenas eram necessários 6 estádios para o efeito, Portugal quis adoptar uma candidatura megalómana apresentando oito estádios para o efeito.
A candidatura de Portugal acabou por vencer e o Euro 2004 foi o sucesso que se viu, mas acabamos como pesada herança ficamos com estádios em Leiria, Aveiro e Algarve.  
No entanto, apesar de ter Estádios projectados e estruturados para o século XXI, a FPF (Federação Portuguesa de Futebol) insiste que o palco da Final da Taça de Portugal seja o decrépito Jamor!
Ao escrever esta crónica acabo de chegar do referido estádio onde assisti à brilhante vitória da minha Briosa sobre o Sporting Clube de Portugal! Não obstante o meu orgulho de academista, fruto dos cinco anos passados na magnífica cidade de Coimbra e as saudades que os anos de estudante deixaram, o brilho da vitória não ofusca a tristeza causada pela péssima organização e pelo sentimento de incompreensão pela insistência incompreensível na estipulação do Jamor como final da Taça.
Diz-nos a wikipédia que “Inaugurado a 10 de Junho de 1944, o Estádio Nacional foi uma criação do Estado Novo, que procurava com este novo recinto não só a promoção da prática do desporto, mas também a criação de um espaço para manifestações públicas inspiradas nos princípios políticos vigentes.”´
A verdade é que não são apenas a inspiração Nazi (Influenciado por obras como o Estádio Olímpico de Berlim) e o seu forte cariz fascista deste estádio que me fazem escrever esta crónica! Compreendo o simbolismo do Jamor (não me revejo no mesmo) mas não compreendo a insistência em fazer do mesmo o palco da final da prova rainha do futebol português quando dispomos de alguns dos estádios mais modernos e seguros da europa!
Confesso que fui ingénuo. Cheguei ao Jamor com a antecedência mais que suficiente para chegar ao meu lugar mais que a tempo do apito inicial em qualquer estádio com acessos razoáveis e uma organização decente. Infelizmente enganei-me, pis esse não é o caso do Jamor, e fruto desse engano não pude ver ao vivo o golo da académica, uma vez que apenas cheguei ao meu lugar já passavam quase dez minutos do início do jogo! Posso dar-me por contente, pois outros houve que só chegaram ao seu lugar já o jogo ia na segunda parte… Felizmente que não choveu (sim tirando a zona VIP o Jamor não tem cobertura) mas mesmo assim a presença no Jamor foi suficiente para comprovar algumas das fragilidades deste Estádio.
Os maus acessos (desafio qualquer um a fazer as sinuosas subidas no meio da mata do Jamor ou em estar no acesso à A5 à espera da sua vez para entrar…), a má sinalização, o número insuficiente de portas de entrada (apenas 5 para 37 000 pessoas!), o enorme tempo de espera necessário para passar os controlos de aceso e entrar, associado à já conhecida limitação no número de lugares (com uma lotação muito inferior à maioria dos novos estádios nacionais) e à deficiente estruturação e condições do estádio (cujos corredores de acesso e divisórias entre sectores não estão preparados para as exigências dos novos tempos) levam-me a pensar porquê insistir no Jamor e a fazer o apelo urgente acreditando que seja verdade o boato que se espalha em surdina que esta foi a última final que ocorreu naquele estádio.
Caso assim não seja deixo apenas um pequeno alerta. Quem conhece as regras de segurança da qualquer espaço sabe que o tempo necessário para a evacuação em caso de emergência é sempre superior ao tempo que se verifica numa conjuntura normal. Ora ao que sei hoje não se passou nada de anormal no Jamor, sendo que apesar de ainda ter esperado no meu lugar bem para além do apito final, demorei mais de quinze minutos para conseguir passar a porta de saída do Jamor (e mais quinze para passar os caminhos sinuosos da mata até chegar à estrada!), sendo que estou habituado a sair de qualquer estádio moderno em menos de cinco minutos.
Assim, e nem sequer falando que demorei quase uma hora para entrar, completamente entalado no meio de uma turba exaltada pela proximidade do início do jogo, cumpre-me apenas esperar que nunca se verifique nada de grave no Jamor, pois tenho receio que a falta de segurança do mesmo provoque o caos e uma verdadeira tragédia!
Compreendendo o simbolismo (ou saudosismo?) que este Estádio representa, caso se opte por manter a organização da final da Taça no Jamor, penso que seria conveniente despender alguns euros na introdução de alguns melhoramentos ao nível dos acessos e formas de entrada dos espectadores, bem como na requalificação deste estádio antiquado que permita que o palco esteja à altura da grande competição que recebe.  
No entanto, e dada a conjuntura financeira do país e o elevado nível de estádios de futebol que dispomos, não sendo eu apegado ao passado (ainda para mais a um passado do qual não me orgulho minimamente), permitam-me  apenas que tirem urgentemente a final da taça do Estádio do Jamor e aproveitem de uma forma mais produtiva os magníficos palcos desportivos que dispomos, os quais são a todos os níveis muito superiores ao estádio de Oeiras!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um problema chamado Madeira!

19/02/2007 - É publicada em Diário da República a Lei das Finanças Reginais que havia sido proposta pelo Governo de Portugal à Assembleia da República. Acto contiguo Alberto João Jardim apresenta a sua demissão, em protesto contra a referida Lei e, simultaneamente anuncia a sua recandidatura.

17/09/2011 - Troika e Banco de Portugal descobrem que Alberto João Jardim violou a Lei das Finanças Regionais e os limites do endividamento e ocultou uma divida de 1113 milhões de euros. Por causa desta dívida o buraco financeiro de Portugal vai ter de ser revisto. Jardim, qual presidente de câmara, fala em obra feita e, pasme-se, alega legitima defesa porque “o Governo da República podia aplicar sanções sobre o governo regional, se o governo regional continuasse com obras a fazer dívida, porque eles não nos tinham dado o dinheiro e não nos autorizavam a fazer dívida.” Esta frase resume bem o pensamento del Rei Alberto João e da sua corte: os cubanos que poupem, na Madeira mandamos nós. E se nos impõem limites de endividamento nós escondemos a dívida e o problema está resolvido.

Quantos milhões de euros foram enterrados pelos Portugueses no buraco financeiro chamado Madeira?! Qual a proporção dessa transferência quando comparada com os montantes do Orçamento de Estado transferidos para Trás-os-Montes ou para o Alentejo?! Mais, destes, quem contribui mais para o Orçamento de Estado? Onde é que a carga fiscal é superior?

O argumento é antigo: Insularidade e autonomia regional. Mas que eu saiba a regionalização foi recusada em referendo pela maioria dos Portugueses que se dignaram ir votar! E o argumento da insularidade não convence, quando é mais rápido ir do Funchal a Lisboa do que de Lisboa à maior parte das cidades do interior do nosso país! Haverá alguém a ter coragem de dizer que um habitante da Madeira está mais isolado do que um habitante De Trás-os-Montes?! Se não porque não pode Trás-os-Montes beneficiar das mesmas regalias que os impostos de todos nós suportam aos madeirenses! É curioso quando se fala na crise como argumento para a A4 ter de ser paga! Talvez a subida do IVA na Madeira originasse uma receita muito superior!

Chegou a altura de dizer basta! Perante o silêncio do Presidente de todos os Portugueses, que sabe bem quem é Alberto João e tem medo de por o pé em ramo verde, e perante a milagrosa divisão em dois de Pedro Passos Coelho, que enquanto primeiro-ministro critica Alberto João mas enquanto Presidente do PSD ainda não desmarcou a ida à madeira em apoio do mesmo as eleições regionais que se aproximam, chegou a altura dos verdadeiros Portugueses dizerem basta e deixarem um desafio aos eleitores da Madeira: Provem que são Portugueses e punam Alberto João nas próximas eleições regionais! Caso não o façam fica claramente demonstrada a falta de solidariedade dos Madeirenses para com os Portugueses e aí estes deverão agir em conformidade e exigir do governo que não mande nem mais um soldado para as colónias, o mesmo que dizer nem mais um cêntimo para a Madeira!

Não é Portugal que precisa da Madeira, é a Madeira que precisa de Portugal! E se Alberto João pensa que quer pode e manda, chegou a hora de alguém lhe mostrar que não é assim e que o povo ainda é quem mais ordena.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A (in)Justiça nos órgãos partidários

Reza assim o n.º 5 do artigo 32.º da Constituição da República Portuguesa: “O processo criminal tem estrutura acusatória, estando a audiência de julgamento e os actos instrutórios que a lei determinar subordinados ao princípio do contraditório.”

Pois bem, parece que para azar de alguns, ao processo disciplinar aplicam-se, subsidiariamente, as regras do processo criminal, e ainda é obrigatório garantir o direito do contraditório ao arguido.

Eu sei que alguns devem, a esta altura, estar a pensar: que chatice esta coisa dos direitos liberdades e garantias ou talvez concordem com Manuela Ferreira Leite quando esta sugeria suspender a democracia durante seis meses!

Vem esta conversa a propósito da decisão da Comissão Nacional de Jurisdição do Partido Socialista (partido cujos ideais ainda comungo apesar de estar desvirtuado por alguns dirigentes…) que decidiu revogar a decisão da Comissão Federativa de Jurisdição que decidiu expulsar Humberto Rocha, pasme-se, sem este nunca ter sido ouvido sobre o processo disciplinar que lhe tinha sido instaurado!

Pois é, a justiça tarda mas chega, e mais de um ano depois é ao menos garantido a Humberto Rocha o direito de se defender e se pronunciar sobre esta patifaria que lhe estão a fazer! É pena que tenha de ser a comissão nacional a recordar à comissão federativa que Portugal ainda é um estado de direito e o PS também apesar das tentativas de alguns em transformar o partido num domínio privativo….

Infelizmente, este caso só vem revelar a falta de democracia interna nos partidos políticos e a perseguição sem medidas e sem regras que se move a alguém cujo único crime foi pensar pela sua cabeça e ter um pensamento divergente daquele que era defendido pelo grande líder. É lamentável que em pleno século XXI alguém ainda seja perseguido por delito de opinião ou de expressão e seja expulso de um partido político apenas e só por ter exercido um direito que é seu, o de candidatar-se, como independente aos órgãos locais! É ainda mais lamentável que a decisão de expulsar um militante fosse tão imperiosa e urgente que a mesma se encontrava, pelos vistos, tomada à partida, e um militante tenha sido expulso sem poder defender-se e expor os seus argumentos.

Quase um ano depois do meu último post não podia deixar este acontecimento em claro! Numa altura em que cada vez mais os cidadãos se afastam da política e a classe política se encontra cada vez mais descredibilizada vale a pena pensar nisto e talvez tentar que ao menos os princípios básicos do estado de direito democrático tenham alguma expressão dentro dos partidos políticos. Pode ser que assim não aconteçam mais casos como este!

domingo, 19 de setembro de 2010

O Fim de um ciclo

Na vida tudo termina e tudo acaba! Após cerca de nove meses de mandato, chega ao fim o mandato da Concelhia da Juventude Socialista de Bragança. E chega ao fim, não pelo decurso do tempo daquilo que os Estatutos estabelecem como mandato (2 anos), mas motivado pelo pedido de demissão apresentado pelo Coordenador Concelhio, pedido no qual, provavelmente, irá ser acompanhado pela maioria dos membros da Comissão Politica, o que implicará a queda deste órgão, e novas eleições.

Tal como o tempo de gestação, estes nove meses de mandato ficam marcados por aspectos positivos, merecedores do maior destaque e dignos de elogio, mas também por alguns aspectos negativos, demasiados até, talvez, para o curto espaço de tempo decorrido, que sendo dignos da minha maior censura, me levam a não lamentar este desfecho.

Fechada a porta deste mandato, olho para trás e faço um balanço, que infelizmente é negativo. Voltasse eu atrás e talvez não tivesse aceite o convite de integrar esta equipa, liderada por uma pessoa que eu temia, à partida, não ser a mais indicada para o cargo e não ter perfil para a missão com a qual se iria deparar. Hoje, ao olhar para trás, vejo que tinha razão! O meu erro foi ter aceite, e com essa aceitação, colaborado para este desfecho.

Retomo a frase de um dos meus artigos anteriores: “É pena que se assista já na juventude a alguns dos defeitos que mais descredibilizam a classe política e que alguns jovens não saibam ter uma atitude coerente”. Mais, é lamentável que se assista já numa juventude partidária a laivos de narcisismo e egocentrismo, que se cultive a ingratidão, a hipocrisia, o unanimismo e a subserviência e se censure as pessoas que tenham pensamentos divergentes, não permitindo o debate de ideias, antes, cultivando o “carneirismo”. É irónico que se cometam os mesmos erros que se tinham acabado de criticar aos outros, quando chegamos ao poder.

Eu sei que não vivi no período do Estado Novo mas, sem qualquer desprimor para aqueles que atravessaram este período, devo ter vivido um ambiente semelhante na Concelhia da JS neste mandato que ora termina. Punido por delito de opinião, fui alvo de segregação, afastado das actividades, e até excluído de participar na reunião de Órgãos para os quais tinha sido democraticamente eleito. Apenas por manifestar o que pensava e me recusar a dizer “Amen” a tudo quanto era dito pelo Coordenador, ou talvez por insistir pensar pela minha cabeça no processo de eleição do novo dirigente federativo, foi-me comunicado que o Sr. Coordenador tinha perdido a sua confiança pessoal e politica na minha pessoa e deixava de contar comigo.

Desde então, passei a ser “persona non grata” e deixei de ser convocado para as reuniões do Secretariado Concelhio, órgão eleito pela Comissão Politica e onde me encontrava de pleno direito. Atónito ouvi hoje o Sr. Coodenado justificar esta conduta reconhecendo que, apesar de eu continuar legal e estatutariamente a integrar o secretariado (pois a minha substituição nunca foi deliberada nem sufragada), ele unilateralmente, “e porque lhe apeteceu”, tinha decidido, ao arrepio de todas as normas, deixar de me convocar. Seria uma maneira fácil de justificar este facto, se não vivêssemos numa democracia! Que tal o Presidente da AR deixar de convocar para as reuniões os deputados da oposição?!

Não é que a falta de confiança política do Sr. Coordenador, o facto de ele ter deixado de contar comigo, ou a minha saída do Secretariado, me incomodem. Incomoda-me sim o facto, que não posso deixar de publicitar, de existirem tendências de censura e despotismo numa pessoa que ambiciona ser um dos políticos de amanhã. É este um dos políticos que Portugal anseia?! Eu não! Será este o futuro líder distrital da Federação da JS?! Espero que não!

Assim, com base nos resultados da Comissão Politica Concelhia de hoje, não posso deixar de me congratular com a demissão de uma pessoa incapaz de exercer o seu mandato, e manifestar os meus anseios de uma Concelhia da JS Bragança melhor e mais forte! Apetece dizer que pior é impossível!

Com o fim de um ciclo, espero que seja o inicio de outro! E um novo ciclo marcado por um líder da Concelhia da JS Bragança mais tolerante e democrático, capaz de conviver com o pluralismo e de aproveitar todas as opiniões que surjam, mesmo que estas sejam, à partida diferentes da sua! É este o meu desejo! Lembro-me de uma velha máxima que não posso deixar de citar: Todos juntos seremos mais fortes!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Reflexões…

Há muito, muito tempo, era uma vez um jovem príncipe preocupado e empenhado com os assuntos da governação do reino. Como todos os jovens normais, também o nosso jovem príncipe tinha o seu grupo de amigos, em quem confiava, e com quem contava, quer para o acomodar nas tropelias da corte quer para o aconselhar em diversas matérias.

Um certo dia, o melhor amigo do nosso jovem príncipe informa-o que vai convidar um dos seus amigos (que o príncipe não conhecia) para integrar a corte. Como é sabido, nessa altura apenas era permitido integrar a corte às pessoas que fossem devidamente convidadas e autorizadas. O amigo do nosso jovem príncipe, vendo que o seu amigo já havia demonstrado, fora da corte, a sua competência e aptidão, e reconhecendo que este poderia ser uma mais-valia em termos militares e de influência, pois era possuidor de vastas terras e de um grande exército, considerava útil que este viesse para a corte.

Mas eis que o pai do nosso príncipe, o rei, estava a envelhecer, e à medida que o tempo de se tornar rei se aproximava, o nosso jovem príncipe começava a tornar-se cada vez mais desconfiado, quase com medo da própria sombra, vendo em qualquer lado um inimigo.

Ora, vendo neste estrangeiro uma potencial ameaça, o nosso príncipe tentou convencer o seu amigo a não o convidar a integrar a corte, deixando vincada a sua posição: o estrangeiro poderia integrar a corte mas nunca integraria o seu grupo de amigos nem seria uma pessoa bem-vinda. Dizia o jovem príncipe que este estrangeiro era um interesseiro e um oportunista, que apenas tinha terras e exércitos graças ao apoio de outros príncipes estrangeiros e que não perderia a oportunidade de o derrubar caso tivesse esta possibilidade. Contrariado acabou por se resignar à vontade do amigo, que persistente, manteve a sua posição.

Algum tempo mais tarde, o rei morreu e o nosso jovem príncipe tornou-se rei. Confiando no seu melhor amigo atribuiu-lhe o cargo de chanceler e começou a escolher as pessoas para integrar o conselho real. É então que o seu chanceler lhe recomenda o nome do estrangeiro. Após bastante discussão e após ouvir mais alguns dos seus amigos, o príncipe acabou por aceitar a recomendação. O rei não gostava do estrangeiro, nunca o tinha aceite no seu grupo de amigos, mas acaba por designá-lo como conselheiro, chegando mesmo, a nomeá-lo seu secretário pessoal, não por lhe reconhecer competência ou por ter por ele admiração, mas apenas e só com o intuito de o manter por perto e sob controlo.

Com o passar do tempo a opinião do Rei e do seu chanceler sob o rumo a dar ao reino foi divergindo. Como bom amigo que era o chanceler sempre transmitia a sua opinião sincera e honesta, procurando ajudar o seu amigo. Contudo o Rei havia-se tornado prepotente e não gostava que discordassem dele. À medida que as opiniões iam divergindo, o Rei começou a olhar o seu chanceler com desconfiança.

O Secretário Pessoal (o nosso estrangeiro), apesar de ser amigo do chanceler, vendo uma hipótese de o substituir, começa a alimentar essa desconfiança e a apoiar as opiniões do Rei, quer concordasse com elas ou não. Alimentado pelo Secretário Pessoal, o Rei começa a ver no seu Chanceler um potencial inimigo, e decide afastá-lo do cargo e promover o secretário pessoal a chanceler. Depois de afastar o seu antigo amigo do cargo de chanceler, o Rei determina que este seja banido da corte e, algum tempo mais tarde, acaba por determinar que seja executado.

Esta é, resumidamente, a história de Henrique VIII, de Thomas More e de Thomas Cromwell, uma história que ainda hoje me fascina. A execução de Thomas More na Torre de Londres, no dia 6 de Julho de 1535, ordenada por Henrique VIII, foi considerada uma das mais graves e injustas sentenças aplicadas pelo Estado contra um homem de honra, consequência de uma atitude despótica e de vingança pessoal do rei. Algum tempo mais tarde o rei veria quem era na verdade Thomas Cromwell e este seria sujeito ao mesmo destino de More.

Esta história ocorreu há muito, muito tempo, mas, se pensarmos bem, histórias como esta continuam a acontecer ainda hoje, em sítios bem perto de nós. A intriga, o oportunismo, a falsidade e a hipocrisia continuam a ser, como então eram, marcas do nosso tempo, onde a injustiça continua a imperar. Mas, tal como Thomas More, continuo a acreditar que é possível ser diferente, que é possível aprender com a história e continuo a lutar pela realização do sonho e a tornar cada vez mais real a Utopia.