sábado, 27 de março de 2010

Uma questão de planos…

A semana que ora finda fica marcada, a nível local e a nível nacional, pela discussão de planos. Se ao nível do país tivemos a discussão sobre um plano de austeridade, designado PEC, em Bragança tivemos a discussão e votação em Assembleia Municipal do projecto da CMB para a Revisão do PDM. Perdoar-me-ão que atribua ao PDM, a nível concelhio, a mesma importância que atribuo ao PEC a nível nacional. Um e outro constituem documentos determinantes para a fixação de objectivos de desenvolvimento, instrumentos de enorme relevância, dentro do seu âmbito de aplicação, para a estabilidade e desenvolvimento das zonas geográficas a que dizem respeito. Neste sentido, seria expectável que um e outro merecessem tratamentos análogos na sua análise, discussão e aprovação. Contudo, apesar da similitude, a realidade demonstra abordagens muito diferentes.
Se ao nível nacional, o Governo, consciente da importância do PEC, fez questão de o debater com a oposição, mesmo não estando obrigado a fazê-lo, por cá, a CMB, talvez por ignorar a importância do PDM, apesar de obrigada a aprovar a Revisão em Assembleia Municipal, tudo fez para dificultar a sua votação neste órgão, e qual lei da rolha à moda do forte S. João de Deus, não entregou aos membros da AM a documentação do processo, remetendo-os para o site do município!
E se o governo fez questão de ouvir a oposição e até de acolher alguns dos seus contributos, chegando inclusive a alterar a sua proposta de resolução, o Sr. Presidente da CMB recusou ouvir a opinião das diversas forças politicas representadas na AM, dizendo que essas opiniões deveriam ter sido dadas em sede de discussão pública e lamentando que os partidos não tenham dado aí o seu contributo.
Numa clara confusão de planos, ou, por outras palavras, trocando os papeis, o senhor presidente confunde as funções da discussão publica com as funções da AM. Nada que nos estranhe de quem classifica uma intervenção legitima de um Presidente da Junta como manobra de diversão ou de quem já confundiu as funções do CMJ com as funções dos Partidos políticos, mas penso que alguém lhe deveria explicar a diferença…. É pena que nem todos compreendam que um órgão democraticamente eleito como a AM e os seus membros merecem mais respeito!
Mas as diferenças entre PEC e PDM não se ficam por aqui. Como um mal nunca vem só, às trapalhadas na apresentação do PDM à AM junta-se a falta de qualidade do mesmo.
Seguindo a recomendação do senhor Presidente, fui á internet ver o projecto de revisão e deparei-me com um Plano que de estratégico tem pouco e de políticas de desenvolvimento nada.
Não quero ser poeta, perdão, profeta da desgraça, mas, se no caso do PEC, concorde-se ou não com algumas das opções tomadas, facilmente se compreende a sua razão de ser e os objectivos que se pretendem atingir, o PDM constitui um documento desadequado e desactualizado, sem qualquer estratégia de futuro ou motivação válida para as opções de base territorial adoptadas.
Sendo PDM o instrumento que “estabelece a estratégia de desenvolvimento territorial, a política municipal de ordenamento do território e de urbanismo e as demais políticas urbanas”, a sua revisão constituía, como referido no Relatório “uma oportunidade em si” com inúmeras potencialidades.
Infelizmente, no caso de Bragança, a revisão do PDM constituiu mais uma oportunidade perdida! Após 10 anos de espera, é com uma enorme desilusão que me deparo com um plano marcado pela falta de visão estratégica e de objectivos, sem qualquer para o modelo de organização espacial e com um plano de execução que passa ao lado das apostas necessárias ao desenvolvimento da cidade e do concelho.
De facto é tudo uma questão de planos… ou de falta deles! Faz-me lembrar um artigo recentemente publicado no DN. Bragança está mesmo a morrer e o Eng.º Nunes é o seu coveiro!

domingo, 21 de março de 2010

Aos meus amigos!


Amigo

Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também


Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também


Aqueles
Aqueles que ficaram
Em toda a parte todo o mundo tem
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

Crónica do Vazio

Amigo, Maior que o pensamento, Por essa estrada amigo vem”!

Começa assim a letra de uma famosa canção de Zeca Afonso e que resume, no fundo um grande apelo à amizade. Um apelo que feliz ou infelizmente todos nós repetimos ou temos necessidade de repetir no dia-a-dia.
Utilizando um cliché muitas vezes invocado “a vida é para ser vivida”. Mas para viver a vida, o ser humano não pode estar sozinho! O ser humano é um ser social, vive e cresce em comunidade! Quando falo em viver em comunidade não limito ao normal encontro e desencontro com desconhecidos, aos momentos fugazes trocados com conhecidos ou com colegas de trabalho, mas, acima de tudo, aos verdadeiros momentos de conhecimento, crescimento e partilha que ocorrem entre pessoas que não só se conhecem, mas que gostam de estar juntas, que se respeitam, compreendem e ajudam mutuamente.
São essas pessoas que designamos de amigos, pessoas que nos aceitam como nós somos, nas quais confiamos, que estão ao nosso lado, nos bons e nos maus momentos, pessoas com quem gostamos de estar e sem as quais a vida não faz sentido. Mais que o banal convivo social e a rotina diária que por vezes nos leva a esquecer dos outros, o ser humano necessita de amigos!
De facto, a maior riqueza do mundo é ter um amigo! De nada vale um bom salário ou até ganhar o euromilhões se não temos ninguém que nos ajude a desfrutar e aproveitar essa riqueza! De nada valem sucessos pessoais ou profissionais quando estamos sós, perdidos no mundo e sem ninguém os reconheça! Muito mais do que de uma carreira ou de dinheiro, para viver a vida precisamos, acima de tudo, de amigos!
O que seria de nós sem alguém com quem partilhar os bons momentos, alguém que comungue das nossas alegrias, ou alguém que esteja ao nosso lado nas horas más ou nos momentos de desânimo, que nos apoie e dê coragem para continuar a lutar? A verdade é que os bons momentos perdem sentido sem alguém com quem os partilhar e os maus momentos podem ser muito piores se não tivermos alguém ao lado a dar-nos o seu apoio desinteressado.
Mesmo que, por diversos motivos, sejamos forçados a separar-nos dos nossos amigos, a amizade sobrevive à distância e mantém-se. Mesmo longe, os verdadeiros amigos não perdem a amizade nem o contacto e estão lá quando precisamos deles.
Mas, como dizia Camilo Castelo Branco: “
Amigo é uma palavra profanada pelo uso e barateada a cada hora, como a palavra de honra, que por aí anda desvirtualizando a honra.”! Na realidade a vida prega-nos algumas surpresas e desilusões. Por vezes confrontamo-nos com pessoas que consideramos amigos mas que não o são na verdade, pessoas nas quais pensamos poder confiar e contar, que nos batem nas costas e que aparentemente nos parecem apoiar mas que verdadeiramente nunca confiaram em nós, que falam mal de nós pelas costas, e que são os primeiros a rir-se se algum mal nos acontece. São pessoas que por, vezes, até ajudamos, mas que quando nos apercebemos nunca estão lá quando precisamos delas ou, mais grave, só estão connosco enquanto precisam de nós e se esquecem facilmente da nossa existência quando o motivo que os levou a aproximar desaparece – são os falsos amigos!
Infelizmente, por vezes, não distinguimos os amigos dos falsos amigos ou, inevitavelmente, chegamos até a confundir uns e outros. E se nos bons momentos, invariavelmente, uns e outros, estão lá, quer seja para partilhar verdadeiramente a nossa alegria ou para daí tirar algum proveito, é nos piores momentos da nossa vida que descobrimos os verdadeiros amigos.
É certo que mesmo quando tudo nos corre bem podemos procurar e encontrar alguns laivos de inveja ou alguns pés que nos procuram passar uma rasteira. Mas é quando algo nos corre mal, quando estamos nervosos ou preocupados com alguma situação, quando estamos tristes ou deprimidos que vemos quem é que verdadeiramente nos ajuda e nos procura apoiar. A verdadeira amizade é desinteressada e não procura obter nada em troca! É por isso que é nos piores momentos que facilmente se encontram os amigos.
É nos momentos em que estamos perdidos no meio do vazio que vemos de quem são os braços que nos puxam para cima e de quem são os braços que ficam cruzados a rir-se da situação!
Só aqueles que ficam quando não temos nada para lhes oferecer, que partilham as nossas mágoas, que estão ao nosso lado e nos oferecem o seu ombro para chorar, que nos procuram animar e ajudar nos momentos de desânimo é que são dignos de ser chamados amigos.
É por isso que eu costumo dizer que conhecidos tenho muitos, amigos tenho poucos, pois nem todos são dignos de serem chamados amigos. São esses que são bem-vindos, porque vêm por bem. É a esses poucos que eu quero pedir desculpa e agradecer! Desculpem-me pelos meus erros e cansaços. Obrigado por me aceitarem como sou, por existirem e por me ajudarem a encontrar um motivo para viver e para ser feliz! Obrigado por estarem aí e pelo apoio que me deram sempre que precisei e pelo prazer me dão em poder privar da vossa companhia!
Eu sei que posso contar convosco, vocês podem contar comigo! E como somos poucos, façam como dizia o Zeca e tragam outro amigo também!

terça-feira, 9 de março de 2010

Todas as Mulheres do Mundo - José Cid

São avós que nos contam histórias,
Eram mães que morriam por nós,
São irmãs quando precisamos
São amigas quando estamos sós.

São amantes nas noites de Verão
E aconchegam nas noites de Inverno
Quando estamos perdidos na vida
Vão connosco até ao inferno.

Todas as mulheres do Mundo,
São como rosas do meu jardim
É preciso estimá-las, beijá-las, sentir seu perfume nas noites sem fim
E se houver quem assume o contrário
É mentira pois tenho p'ra mim
Que todas as mulheres do Mundo
São como rosas do meu jardim

Têm espinhas por aí presente
Quase sempre maior do que a Lua
É ternura e publicidade
O que fica depois do Amor

São avós que nos contam histórias,

Eram mães que morriam por nós,
São irmãs quando precisamos
São amigas quando estamos sós.

E se houver quem assume o contrário
É mentira pois tenho p'ra mim
Que todas as mulheres do Mundo
São como rosas do meu jardim

Todas as mulheres do Mundo são como rosas do meu jardim.


José Cid, Todas as mulheres do Mundo



segunda-feira, 8 de março de 2010

Homenagem a todas as mulheres da minha vida!

Anjo És

Anjo és tu, que esse poder
Jamais o teve mulher,
Jamais o há-de ter em mim.
Anjo és, que me domina
Teu ser o meu ser sem fim;
Minha razão insolente
Ao teu capricho se inclina,
E minha alma forte, ardente,
Que nenhum jugo respeita,
Covardemente sujeita
Anda humilde a teu poder.
Anjo és tu, não és mulher.

Anjo és. Mas que anjo és tu?
Em tua fronte anuviada
Não vejo a c'roa nevada
Das alvas rosas do céu.
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sôfrego pudor
Vela os mistérios d'amor.
Teus olhos têm negra a cor,
Cor de noite sem estrela;
A chama é vivaz e é bela,
Mas luz não têm. - Que anjo és tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu?

Não respondes - e em teus braços
Com frenéticos abraços
Me tens apertado, estreito!...
Isto que me cai no peito
Que foi?... - Lágrima? - Escaldou-me...
Queima, abrasa, ulcera... Dou-me,
Dou-me a ti, anjo maldito,
Que este ardor que me devora
É já fogo de precito,
Fogo eterno, que em má hora
Trouxeste de lá... De donde?
Em que mistérios se esconde
Teu fatal, estranho ser!
Anjo és tu ou és mulher?

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'