domingo, 21 de março de 2010

Crónica do Vazio

Amigo, Maior que o pensamento, Por essa estrada amigo vem”!

Começa assim a letra de uma famosa canção de Zeca Afonso e que resume, no fundo um grande apelo à amizade. Um apelo que feliz ou infelizmente todos nós repetimos ou temos necessidade de repetir no dia-a-dia.
Utilizando um cliché muitas vezes invocado “a vida é para ser vivida”. Mas para viver a vida, o ser humano não pode estar sozinho! O ser humano é um ser social, vive e cresce em comunidade! Quando falo em viver em comunidade não limito ao normal encontro e desencontro com desconhecidos, aos momentos fugazes trocados com conhecidos ou com colegas de trabalho, mas, acima de tudo, aos verdadeiros momentos de conhecimento, crescimento e partilha que ocorrem entre pessoas que não só se conhecem, mas que gostam de estar juntas, que se respeitam, compreendem e ajudam mutuamente.
São essas pessoas que designamos de amigos, pessoas que nos aceitam como nós somos, nas quais confiamos, que estão ao nosso lado, nos bons e nos maus momentos, pessoas com quem gostamos de estar e sem as quais a vida não faz sentido. Mais que o banal convivo social e a rotina diária que por vezes nos leva a esquecer dos outros, o ser humano necessita de amigos!
De facto, a maior riqueza do mundo é ter um amigo! De nada vale um bom salário ou até ganhar o euromilhões se não temos ninguém que nos ajude a desfrutar e aproveitar essa riqueza! De nada valem sucessos pessoais ou profissionais quando estamos sós, perdidos no mundo e sem ninguém os reconheça! Muito mais do que de uma carreira ou de dinheiro, para viver a vida precisamos, acima de tudo, de amigos!
O que seria de nós sem alguém com quem partilhar os bons momentos, alguém que comungue das nossas alegrias, ou alguém que esteja ao nosso lado nas horas más ou nos momentos de desânimo, que nos apoie e dê coragem para continuar a lutar? A verdade é que os bons momentos perdem sentido sem alguém com quem os partilhar e os maus momentos podem ser muito piores se não tivermos alguém ao lado a dar-nos o seu apoio desinteressado.
Mesmo que, por diversos motivos, sejamos forçados a separar-nos dos nossos amigos, a amizade sobrevive à distância e mantém-se. Mesmo longe, os verdadeiros amigos não perdem a amizade nem o contacto e estão lá quando precisamos deles.
Mas, como dizia Camilo Castelo Branco: “
Amigo é uma palavra profanada pelo uso e barateada a cada hora, como a palavra de honra, que por aí anda desvirtualizando a honra.”! Na realidade a vida prega-nos algumas surpresas e desilusões. Por vezes confrontamo-nos com pessoas que consideramos amigos mas que não o são na verdade, pessoas nas quais pensamos poder confiar e contar, que nos batem nas costas e que aparentemente nos parecem apoiar mas que verdadeiramente nunca confiaram em nós, que falam mal de nós pelas costas, e que são os primeiros a rir-se se algum mal nos acontece. São pessoas que por, vezes, até ajudamos, mas que quando nos apercebemos nunca estão lá quando precisamos delas ou, mais grave, só estão connosco enquanto precisam de nós e se esquecem facilmente da nossa existência quando o motivo que os levou a aproximar desaparece – são os falsos amigos!
Infelizmente, por vezes, não distinguimos os amigos dos falsos amigos ou, inevitavelmente, chegamos até a confundir uns e outros. E se nos bons momentos, invariavelmente, uns e outros, estão lá, quer seja para partilhar verdadeiramente a nossa alegria ou para daí tirar algum proveito, é nos piores momentos da nossa vida que descobrimos os verdadeiros amigos.
É certo que mesmo quando tudo nos corre bem podemos procurar e encontrar alguns laivos de inveja ou alguns pés que nos procuram passar uma rasteira. Mas é quando algo nos corre mal, quando estamos nervosos ou preocupados com alguma situação, quando estamos tristes ou deprimidos que vemos quem é que verdadeiramente nos ajuda e nos procura apoiar. A verdadeira amizade é desinteressada e não procura obter nada em troca! É por isso que é nos piores momentos que facilmente se encontram os amigos.
É nos momentos em que estamos perdidos no meio do vazio que vemos de quem são os braços que nos puxam para cima e de quem são os braços que ficam cruzados a rir-se da situação!
Só aqueles que ficam quando não temos nada para lhes oferecer, que partilham as nossas mágoas, que estão ao nosso lado e nos oferecem o seu ombro para chorar, que nos procuram animar e ajudar nos momentos de desânimo é que são dignos de ser chamados amigos.
É por isso que eu costumo dizer que conhecidos tenho muitos, amigos tenho poucos, pois nem todos são dignos de serem chamados amigos. São esses que são bem-vindos, porque vêm por bem. É a esses poucos que eu quero pedir desculpa e agradecer! Desculpem-me pelos meus erros e cansaços. Obrigado por me aceitarem como sou, por existirem e por me ajudarem a encontrar um motivo para viver e para ser feliz! Obrigado por estarem aí e pelo apoio que me deram sempre que precisei e pelo prazer me dão em poder privar da vossa companhia!
Eu sei que posso contar convosco, vocês podem contar comigo! E como somos poucos, façam como dizia o Zeca e tragam outro amigo também!

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