sábado, 8 de novembro de 2025

Roma não paga a traidores (ou talvez pague)

 Um mês volvido das eleições autárquicas, e instalados e em plena posse de funções os eleitos, urge fazer uma reflexão profunda.

No dia 12 de Outubro de 2025, foi destaque em Bragança e nas televisões nacionais a vitória do Partido Socialista na Camara Municipal de Bragança! Esta vitória foi amplamente festejada pelas hostes locais, que comemoraram a recuperação da liderança do executivo municipal 28 anos depois!

Infelizmente foi uma vitória de uma noite só! Repetindo o que já vinha fazendo durante a pré e a campanha eleitoral, a Presidente Eleita, Isabel Ferreira, fez chamar a si a vitória e não ao partido que a apoiou. Mais ainda em várias entrevistas e artigos de opinião fez questão de afirmar que quem mandava era ela e que depois das eleições não havia partidos!

O PS, esse, assistiu impávido e sereno, à ambição e prepotência da presidente eleita, subjugando-se à ambição da mesma e contentando-se com as “cascas-de-alho” que lhe sobraram desta vitória de pirrro! Em surdina, e mesmo em órgãos internos, foram muitos os militantes que reconheceram que a candidata não ouviu e tratou mal o partido, os militantes e as estruturas, faltou ao respeito ao partido socialista e pouco ou quase nada o representa. Fizeram-no, reconhecendo que tudo aceitaram e tudo calaram, à luz do superior interesse da vitória nas eleições, como se valesse tudo para vencer! Fizeram-no, alguns na esperança de taxos, outros iludidos e encandeados pela vitória, e com a esperança e promessa que iriam continuar vigilantes na defesa do partido socialista e que era o PS que tinha o direito e obrigação de controlar e garantir o bom funcionamento e a execução da política da camara.
Infelizmente logo se viu que tal não corresponde à verdade. Mais, digo eu, não podemos assistir calados e na vida, e em política, não vale tudo para ganhar!    

Vamos ser claros:

As listas para a eleição dos órgãos das autarquias locais podem ser apresentadas pelas seguintes entidades proponentes:

a) Partidos políticos;

b) Coligações de partidos políticos constituídas para fins eleitorais;

c) Grupos de cidadãos eleitores.

Os partidos políticos e as coligações de partidos políticos podem incluir nas suas listas candidatos independentes, desde que como tal declarados.

Isabel Ferreira não foi candidata por um grupo de cidadãos eleitores! Foi candidata apresentada pelo Partido Socialista, e quer ela própria, ao aceitar essa apresentação, quer quem a apresentou, têm direitos e deveres, com os cidadãos, com o partido e com os militantes!

Isabel Ferreira não recolheu assinaturas e foi candidata independente! Isabel Ferreira foi candidata independente nas listas do Partido Socialista e deve respeito ao Partido, aos seus dirigentes, aos militantes e a todos os que nela votaram nessa condição!

Ouso fazer minhas as palavras de Nuno Moreno: “ao negar a questão partidária a líder (pessoalmente diria a chefe) beneficia da legitimidade, da estrutura e dos militantes/simpatizantes para chegar ao Poder mas rejeita a responsabilidade (e as obrigações….) de que esse apoio implica e a gratidão que lhe deve”.

Conforme se refere na Constituição da República Portuguesa “Os partidos políticos concorrem para a organização e para a expressão da vontade popular, no respeito pelos princípios da independência nacional, da unidade do Estado e da democracia política.” Não há politica sem partidos, e não há democracia sem partidos!

Foi precisamente com o número 2 da lista do PS, Nuno Moreno que os sinais de evidência de falta de lealdade, reconhecimento, agradecimento, arrogância, prepotência e rutura começaram a surgir!

Ainda quase a noite eleitoral e os festejos não tinham terminado, já vinham a público os sinais de rutura entre Isabel Ferreira e o número 2 Nuno Moreno. Logo no exercício de direito à resposta a essa notícia, o vereador eleito confirmava o desentendimento entre ele e Isabel Ferreira e referia que o mesmo “teve origem em causas e factos cuja explicitação ocorrerá em tempo e lugar adequado e oportuno.”

Mais tarde, a 31 de outubro de 2026, Nuno Moreno tomou posse mas afastou-se do PS e assumiu-se como vereador independente. Fê-lo, conforme então referido pela Presidente da Assembleia Municipal Cessante, “evocando o principio da independência do eleito local e de acordo com a natureza pessoal e representativa do mandato autárquico e em estrito cumprimento da sua responsabilidade para com os eleitores e em defesa dos interesses do concelho” com a desvinculação imediata do grupo municipal do Partido Socialista, alegando, em declarações, à Lusa, incompatibilidades pessoais e políticas com Isabel Ferreira, presidente da câmara.

“Houve uma profunda e grave quebra de confiança, de lealdade política e pessoal, de lisura política e pessoal, entre mim e a professora Isabel Ferreira, já no período de pré-campanha, depois no período de campanha e depois de obtida a vitória das eleições” alegou então, salientando que “não há condições para trabalhar” com a presidente do município.

Segundo o vereador independente, tal quebra manifestou-se através de “um isolamento/afastamento ativo e intencional e de um corte total de comunicação no período de pré-campanha e campanha, que [o] afastou dos processos de construção e decisão, diários, da candidatura e do projeto político”.

No seu entender, esta tática teve vários objetivos, nomeadamente a criação de vazio de confiança. “Fui colocado, progressivamente, numa posição de não-informado e não-participante nas decisões diárias e nas cruciais”, diz.

A marginalização terá sido utilizada "como arma". “O isolamento visou fragilizar-me, pessoal e politicamente, para justificar a minha exclusão da equipa e da liderança”, indicou.

A falsa narrativa. “O mais grave foi a disseminação de um falso pretexto — de falta de empenho e trabalho — que visou minar a minha reputação pública e silenciar o meu trabalho de fiscalização”, acrescenta”, acrescenta.

O estilo de liderança e o que designa “autocracia e culto de personalidade", são também apontados por Moreno. 

"Em segundo lugar, a minha opção decorre de uma profunda falta de identificação com o perfil e estilo de liderança, e o modo de relacionamento pessoal e comportamental da Prof.ª Isabel Ferreira, designadamente, não me revendo na excessiva centralização na pessoa da liderança, sem partilha, sem discussão das metodologias ou estratégias políticas, no estilo autocrático e impositivo das orientações e decisões tomadas, na visão utilitarista da pessoa e consequente desconsideração da condição do outro, e na idolatria e culto de personalidade na gestão de liderança”, acrescenta.

Nuno Moreno explica a sua atitude por “um ato de consciência escolher Bragança perante a escolha entre manter uma lealdade a uma liderança que não praticou a lisura e violou a confiança", e na qual diz não se rever, "ou ser leal aos eleitores que [o] elegeram”, referiu na mesma nota. 

Já nesta quinta Feira, em artigo de opinião no Mensageiro de Bragança, Nuno Moreno volta a explicar, em artigo que, pessoalmente, subscrevo integralmente, os perigos da opção “não há partidos”.

Da minha parte, com as explicações agora dadas e com a forma como a solução tem evoluído, percebo e compreendo inteiramente a opção de Nuno Moreno. Pessoalmente, teria denunciado a mesma publicamente e teria renunciado ao cargo, mas respeito a opção tomada porque Nuno Moreno entende que é ele quem continua a representar quem votou na lista e foi a líder da mesma que se afastou por completo da sua linha ideológica e se deixou condicionar por outros….

Com efeito, se esta situação não bastava, na passada segunda feira, dia 3 de Outubro, veio a público a jogada prima desta obra, a compra e venda de Ricardo Pinto, que colocando fim a 14 anos de filiação no PSD, se entregou de mão beijada à vencedora do ato eleitoral e contra a qual tinha concorrido e, dois dias depois de ter tomado posse como vereador do PSD, decide aceitar apoiar e integrar o executivo de Isabel Ferreira, contra quem fez campanha eleitoral e traindo quem o indicou para a lista autárquica e quem nele votou na lista do PSD!

Ricardo Pinto garante que não toma esta decisão "por vaidade nem por ambição", mas " por convicção, por dever e por amor à cidade que o viu crescer. de forma consciente e independente, mas com o mesmo espírito social-democrata que sempre guiou o seu caminho, o espírito de quem acredita que a política deve servir as pessoas".

Infelizmente, há atitudes que só (des)qualificam quem as toma e demonstram tudo o ode menos bom que há na politica e nos políticos. Utilizar um cargo para o qual se foi eleito por um partido, para atingir objetivos pessoais é inqualificável, é pouco ético, e extremamente censurável e criticável. É atirar areia para os olhos do povo e  dos eleitores, enganá-los e subverter o sentido do voto. É, no limite, trair a democracia, não assumindo e não cumprindo o dever de ser poder e o dever de ser oposição para os quais o povo os elegeu!

Mas como diz o povo, tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica a porta, e tão censurável é que pratica o ato como quem é cúmplice e conivente com o mesmo, mais ainda retirando dessa traição um beneficio direto!

Isabel Ferreira, que antes já havia garantido que afastamento de Nuno Moreno não afetaria trabalho do novo executivo (já tinha a jogada preparada….) escolheu a solução mais fácil para segurar o poder sem dialogar ou negociar…. Mais que isso, refere que “ela e a sua equipa estão dispostos a trabalhar com quem quer verdadeiramente trabalhar com eles” (mesmo aqueles que se lhe opuseram nas urnas e nas ideias, que defendem o oposto do que defende e que fizeram campanha intensa contra ela e contra a sua eleição….).

Pessoalmente considero uma mera jogada, de ambas as partes de oportunismo político, uma aliança movida por conveniências pessoais momentâneas e que demonstra falta de ética na política e falta de coerência no exercício do mandato legítimo e que penas evidencia o óbvio qué é que nem a presidente eleita nem o vereador em causa são pouco confiáveis e não são dignos e merecedores de qualquer credibilidade ou confiança por parte dos eleitores.

A Concelhia do PS Bragança, que apresentou, apoiou e continua a apoiar e defender Isabel Ferreira, reprova o afastamento de Nuno Moreno e garante união do partido.

Mais que isso, refere que a "atitude [de Nuno Moreno] representa uma clara rutura com o compromisso coletivo e com o projeto político que os brigantinos escolheram de forma livre e democrática nas últimas eleições autárquicas"

Ao invés, congratula-se com a "estabilidade política" resultante da negociação com o vereador Ricardo Pinto, eleito pelas listas do PSD, defendendo que esta solução representa um passo decisivo para garantir o normal funcionamento da Câmara Municipal e o foco nos projetos e compromissos assumidos com os brigantinos e uma forma de “devolver serenidade à vida autárquica e concentrar esforços na execução dos compromissos assumidos”.

Um pouco de coerência precisa-se! Infelizmente, abunda pouco em politica!  

Conforme refere, e bem, Nuno Moreno, esta resposta “falha em abordar a raiz do problema: a grave crise de confiança, lealdade e lisura política e, sobretudo, pessoal que levou à rutura entre [si] e a Prof. Isabel Ferreira, atual Presidente da Câmara de Bragança. Mais uma vez faço minhas as palavras de Nuno Moreno: “A CPC ignora que a própria Nova Liderança Executiva já renegou o papel do Partido ao afirmar que "não há partidos" e que a única motivação é o "trabalhar", desvinculada de qualquer "questão partidária ou ideológica". Esta tática de negar o partido após usá-lo é um ato de deslealdade à base do PS que a CPC deveria condenar, e não silenciar”. Os factos estão à vista de todos e todos o demonstram!

Permitam-me citar as palavras da concelhia do PS quando se refere uma “lógica de suposta legitimidade de independência que não tem, nem lhe foi conferida. Não há legitimidade moral, ética ou política para quem julga ter sido eleito individualmente. Todos fizeram parte de um coletivo apoiado por um partido, e é a essa circunstância que devem lealdade”.

Será que esta frase não se aplica a todos os casos? Será que a opção de Nuno Moreno, ainda que questionável e se discorde da mesma, não é menos grave que a de Ricardo Pinto? Será igualmente defensável a tese de Isabel Ferreira que depois das eleições não há partidos? Então uns são traidores porque abandonam as nossas listas (mas não tomam opção contrária)! Já outros são heróis porque traindo os que os escolheram e elegeram, os seus valores e princípios, passaram a apoiar-nos ou porque nos deram uma vitória eleitoral?

Não há qualquer legitimidade em Isabel Ferreira sem o Partido Socialista! A Presidente de Camara não tem nem nunca teve essa legitimidade de independência nem essa lhe foi conferida!

O "Partido Socialista de Bragança reafirma a sua total confiança em Isabel Ferreira e na sua equipa, certos de que honrarão, com responsabilidade e transparência, o mandato que lhes foi confiado pela população de Bragança". Pessoalmente, e infelizmente, não estou tão certo disso! O artigo de opinião assinado por Isabel ferreira e publicado no jornal Correio da Manhã parece demonstrar que a mesma não percebe isso mas antes, defende o seu contrário! O seu egocentrismo impede-a de ver a verdade dos factos. Sim a Lei Eleitoral dos órgãos das autarquias locais pode, e deve, ser alterada. Mas quando se candidatou Isabel Ferreira sabia as regras do jogo! Contudo, tudo evidencia que é ela quem está a compactuar e por causa a fiabilidade e transparência do processo.

Há derrotas que são menos más que certas vitórias e vitórias que são muito mais nocivas que certas derrotas! Na vida, e na política, não vale tudo. Não vale de tudo para vencer, nem para manter ou segurar a vitória! É preciso ter espinha dorsal, valores e princípios e mantermo-nos fiéis aos mesmos. É por isso que certas ideologias de extrema direita, sustentadas no descontentamento e na descredibilização da politica vêm aumentar a sua base eleitoral pois infelizmente são os políticos os primeiros a dar os piores exemplos.    Esperemos por cenas dos próximos capítulos!

 

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